APL 2395 O cão de guarda


Debaixo da ponte estava um arco, na rua 18 de Junho, e havia uma fábrica, e então lá, de tempos a tempos, aparecia um cão muito grande com uns lindos olhos e então vinha acompanhar as moças da fábrica porque eram novas e às vezes saiam tarde, meia-noite…uma hora e o cão estava ali, dizia a minha sogra, porque isso a minha sogra viu e as colegas de trabalho mas só quando saiam depois da meia-noite é que viam. Diz que era um cão lindo, grande. Elas no princípio tinham medo, porque ele vinha atrás delas mas com o tempo acabaram por ver que o cão não fazia mal e então havia uma moça que morava mais longe, a minha sogra morava aqui parto da fábrica, que era muito bonita, dizia a minha sogra que era uma rapariga muito bonita e então ele [o cão] ia levá-la quase até à porta e alguém que tentasse meter-se com ela ele não deixava, jogava-se logo, como cão não deixava, faz de conta que era guardião daquelas mulheres. Dizia a minha sogra que ele tinha gostado dela, que se tinha encantado. Então, segundo se diz, ele um dia foi até à porta e então ela quando olha para trás vê um lindo rapaz em vez do cão e então acho que ele lhe disse: “Eu sou o cão, não tenhas medo, fui encantado pelos meus pais por gostar muito de uma cristã e eles castigaram-me. Já estou há duzentos anos neste martírio, se tu me conseguisses desencantar ficarias rica e eu deixaria este sofrimento.”
Então ela disse que não podia fazer aquilo que ele queria, a minha sogra nunca chegou a saber o que é que ele pedia para ela o desencantar porque ela nunca confessou, só que um dia ela namorava e um dia o cão vinha atrás e por ciúme jogou-se ao namorado e acho que o namorado matou-o com uma faca ou uma espingarda, atingiu-lhe o coração e ai ele foi mesmo rastejando para não ser visto a modificar-se. E acho que a história terminou assim porque o namorado viu o cão e ela vinha conversando e o namorado achava estranho, porque ela como gostou do rapaz acho que começou a não ligar muito ao namorado, ele era muito ciumento e começou a dizer que ela tinha outro. E então viu-a um dia com o animal, a fazer-lhe festas e a dar beijos, porque ele não tinha poder para ver que era rapaz e então apanhou o animal e creio que o matou.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
Year
2008
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Collector
Nadine Pescada (F)
Informant
Marcelina Machado (F), 69 y.o., born at Olhão (OLHÃO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography