APL 3786 [A Moura encantada em Cabra]

Numa noite de Agosto certo artista desta vila, já falecido, tomou o caminho da casa de seu pai, em Vale de Cães, seguindo a estrada, que sai em frente da igreja de Santa Ana, em cujas proximidades a tradição afirma estar encantada uma moura. Teria o artista dado uns cem passos, viu na sua frente uma cabra. Era meia noite. O nosso homem, supondo que fosse algum animal tresmalhado do rebanho, quis agarrar a cabrinha, mas esta escapou-se ligeira como a gazela. Aborrecido e intrigado com os movimentos ligeiros do animal quis fazer uso de uma bengala, dando-lhe uma pancada; a cabra, porém, fez-lhe frente e dos seus olhos saíram dois fachos de luz radiante como dois archotes em ala. Então conheceu o artista que tinha na sua presença uma moura encantada, que costumava por ali aparecer segundo ouvira dizer a seus avós.
    Pernas para que te quero. Pôs-se de corrida para casa do pai, e foi cair entre portas, exausto de forças e sem poder articular palavra.
    Felizmente acudiram-lhe a tempo.
    Nunca mais o artista por ali passou a desoras, e até morrer contou esta história a centenas de pessoas.

Source
OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve , Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.87-88, cap. V
Place of collection
Almansil, LOULÉ, FARO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography