APL 373 Os olhos de água da caranguejeira

Era uma vez… andava um lavrador agarrado à rabiça do seu arado lavrando a terra que lhe havia de dar o pão. Ele era um bom homem, trabalhador e honrado e muito temente a Deus.
 Dia de sol tórrido que tudo abrasava e secava a língua das gentes e dos animais.
 Os bois, puxando o arado numa andadura pachorrenta, estavam sedentos pois a lavra já se prolongava por várias horas.
 Para os dessedentar o lavrador, sequioso também, levou os bois a um charco que havia perto e já com pouca água por a nascente haver secado.
 Tanta era a sede e a pressa de a mitigar que o lavrador não desaparelhou o gado, e os bois na impaciência da sua secura, avançaram mais e mais, pelo charco até que, às tantas, perdendo o pé começaram a desaparecer nas areias movediças.
 O bom do lavrador, impotente na sua infelicidade, nada podendo fazer para valer aos seus bois, que eram a sua riqueza, implorou a graça divina.
 Mas tudo foi em vão. Os bois e o arado desapareceram sem deixar rasto.
 Mais empobrecido de bens mas mais rico de coragem, o lavrador empunha a enxada e com ela revolve a terra que já não pode arar.
 Porém, alguns dias depois, não muitos, com extrema surpresa do lavrador, os bois, ainda aparelhados no seu arado, emergem de um outro charco, também de pouco água e não muito distante daquele.
 Na sua passagem pelo interior da terra os bois desentupiram as nascentes dos dois charcos que, a partir daí, se transformaram em Dois Olhos de Água.
 O povo da terra deu a um o nome de Olho do Vale Sobreiro e ao outro Olho da Fonte. E os charcos nunca mais secaram.

Source
CABRAL, João Anais do Município de Leiria, Vol. III , Câmara Municipal de Leiria, 1993 , p.220-221
Place of collection
Caranguejeira, LEIRIA, LEIRIA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography