APL 2171 [O terramoto e o Bom Jesus]

No 1º de novembro de 1755 foi a povoação de Alvôr surprehendida pelo grande terramoto. Toda a gente correu ao templo a implorar a divina misericordia em frente do altar do Senhor Jesus. E’ sabido que o mar por diversas vezes saiu do seu leito, invadindo a terra e destruindo tudo que encontrava. Numa dessas vezes, no maior impulso, avançou contra a povoação, engolindo a praia. Um dos fieis, casualmente chegou á porta do templo e vendo que o mar avançava, gritou: Senhor Jesus, acudi-nos. Um mancebo muito valente, que estava proximo do altar, arranca d’ali a Imagem do Senhor com a cruz, e correu para a porta da egreja, colocando-a em frente do mar, que avançava, como que aos pulos, exactamente como faz o tigre, quando se quer apossar da preza. Então o mar como que a medo, parou em frente do Senhor, e logo voltou para traz a entrar nos limites que a natureza lhe impozéra.
 Toda a gente gritou: milagre, milagre! e quando quizeram coliocar a Imagem no eu altar foram necessarios quinze homens; que tantos são sempre os necessarios para d’ali arrancar a Imagem com a sua cruz.
 E dois foram os milagres apontados então pelo povo: dar forças a um só rapaz para transportar a Imagem á porta do templo; e o salvar-se a povoação de ser engulida pelo mar.
 Foi nesta occasião que a singela ermida da Senhora da Ajuda foi completamente engolida pelo mar, a ponto de não ficar na praia signal algum das suas ruinas, desapparecendo para sempre a miraculosa Imagem da Mãe do grande Martir do Golgotha.

Source
OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde A Monografia de Alvor , Algarve em Foco, 1993 [1907] , p.198-199
Place of collection
Alvor, PORTIMÃO, FARO
Narrative
When
1755
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

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