APL 3525 [A moura encantada de Sanfins do Douro]

Ao tempo das longas e sangrentas batalhas que os árabes e os cristãos desenvolveram para o domínio do Algarve, foi uma bela princesa sarracena raptada e trazida [para Sanfins do Douro, concelho de Alijó] por um jovem guerreiro cristão. E longe da sua terra e dos seus carpiu a princesa as mágoas da solidão e as angústias da interminável esperança do regresso ao lar.
    Inúmeras foram as tentativas que os moiros fizeram para a libertar, baldadas, todas elas, pela vigilância constante a que estava sujeita. Um dia, porém, o antigo apaixonado da infeliz moira, dando como senha de reconhecimento algo que não existia na zona do desterro — os figos do Algarve — resolveu, com risco da própria vida, libertar a sua amada.
    Em má hora o fez, já que foi descoberto e morto pelos escudeiros do raptor. A aventura romântica do califa, longe de terminar em bem, serviu ainda para maior reclusão da princesa que, desiludida, se fechou nos aposentos e, desfeita em lágrimas, se finou aos poucos.
    Desde então, porque morrera de amor, ficou encantada à espera de alguém, desditoso nos amores, que fosse capaz de obter o seu desencantamento. É por isso que, nas raras manhãs estivais de nevoeiro, ao subir o monte da Senhora da Piedade, se algum apaixonado encontrar uma velha manta cheia de figos, deve apanhá-los. Se qualquer deles se transformar em libra de oiro, a jovem moirinha recuperará a liberdade.
    Só quem possuir um espírito puro o conseguirá. E como a ninguém aconteceu algum figo se transformar em oiro, a linda princesa aguarda um novo e intrépido cavaleiro que a liberte do encantamento e a devolva às terras quentes do seu querido Algarve.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.204
Place of collection
Sanfins Do Douro, ALIJÓ, VILA REAL
Collector
Joaquim Grácio (M)
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography