APL 387 A Cova do Gigante (1)

Canta o povo que há muito, muito tempo, deambulava pelos matagais e serras de Arruda dos Vinhos um severo gigante. Era tão grande como perverso e aterrorizava todas as povoações da região.
 Como esta terra sempre foi de bom pão e bom vinho, os agricultores tinham de andar, de sol a sol, na lida da terra, ora com a enxada, ora com os bois. Mas ai de algum se era descoberto pelo gigante... Num repente saltava-lhe em cima e... lavrador e bois eram devorados, sem piedade nem dá. E depois, com ar de gozo, apanhava o arado e palitava com ele os dentes. Era um horror! O que acontecia nesta região naquela altura fazia com que a população nunca andasse descansada. Quando alguém saía à rua, o medo quase o fazia desfalecer, principalmente àqueles cujas famílias já haviam sofrido com os ataques do gigante.
 Mas, certo dia, no fim de uma tarde de chuva e trovoada, quando o fogo dos relâmpagos iluminava os céus, mesmo no momento em que o gigante se preparava para deitar as garras a uma pobre velhinha que de joelhos já rezava pela sua alma, caiu um raio do céu e fulminou a terrível fera.
 A população festejou de alegria, mas um problema surgiu: como remover aquele avantajado corpanzil?
 Então o povo, radiante, resolveu que cada um que tivesse na família uma vítima da fera maldita deitava um cesto de terra sobre o seu corpo pestilento.
 E tão numerosas tinham sido as vítimas, e tantos foram os cestos acartados e despejados sobre o moribundo gigante, que o outeiro foi crescendo, crescendo e para sempre ali ficou com a forma de uma campa que cobre um corpo acabado de sepultar.

Source
CUNHA, Jorge da Criações do Génio Popular , Associação para a Recuperação do Património de Arruda, 1997 , p.27-29
Place of collection
Arruda Dos Vinhos, ARRUDA DOS VINHOS, LISBOA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography