APL 1418 A Sereia de Ponta Ruiva

Lá pelo século dezasseis, um dia um pescador de uma povoação do Norte da ilha das Flores andava na costa a apanhar peixe, como era seu costume. Começou a ouvir uma voz muito bonita de mulher a cantar por perto, mas numa língua que não conhecia. Ficou a cismar que por ali havia uma sereia. Logo espalhou pelo povoado a novidade e, pela maneira como falava da sereia, todos ficaram a pensar que ela encantava os homens.
 O pescador não pensava noutra coisa e, logo que pôde, poucos dias mais tarde, voltou à pesca, sonhando com a ideia de que havia de ver a sereia. Tinha acabado de lançar o anzol ao mar, quando começou a ouvir o canto que tanto o perturbava. Recolheu logo a linha e pôs-se a escutar com muito cuidado e a seguir o som. Por fim encontrou a dona de tão melodiosa voz. Não era uma sereia, como ele pensava, mas uma linda rapariga de olhos azuis, pele clara e sardenta e cabelos ruivos. Muito assustada, ao começo, nada disse, mas por fim o pescador ficou a saber a sua história. Era irlandesa e tinha-se escapado de um navio pirata, atirando-se ao mar quando tinha visto terra ali próximo.
 O pescador ficou ainda mais encantado e, depois de conquistar a confiança da rapariga, voltou para casa, trazendo consigo a mulher mais bela que alguma vez a gente do lugar tinha visto.
 Algum tempo mais tarde, o pescador casou com a “sereia” e deles nasceram muitos filhos, todos de olhos azuis e ruivos como a jovem irlandesa.
 Assim àquele lugar da ilha das Flores se passou a chamar, por causa da cor dos cabelos de muitos dos seus habitantes, Ponta Ruiva e ainda hoje ali há muitas pessoas de pele clara, sardentas e de cabelos ruivos, como a rapariga irlandesa que um dia ali apareceu.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.267-268
Place of collection
Cedros, SANTA CRUZ DAS FLORES, ILHA DAS FLORES (AÇORES)
Narrative
When
16 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography