APL 422 A Lenda dos Passarinhos

Estava a Rainha Santa Isabel no seu Paço de Estremoz, onde vinha passar largas temporadas, talvez porque esta paisagem que envolvia o castelo lhe fizesse lembrar os seus campos de infância.
 Das janelas dos seus aposentos, viradas a norte e noroeste descobria nos longes as povoações vizinhas até aos confins azulados da Serra de Portalegre.
 De vez em quando pegava no seu trabalho, seguindo os movimentos do fuso entre as suas mãos.
 Acostumadas àquela presença tão serena e tão meiga, as aves por ali se entretinham, chirleando, num convite a diálogo com aquela que pressentiam entendê-las. 
 Quando ela sorria suspendiam o chilreio, como que a corresponder à atenção.
 Esta convivência alargava-se dia a dia da delicadeza dum sorriso ao encanto dum gesto da Rainha.
 A tal ponto que, numa dessas tardes, desprendidas do mundo e das coisas, aves e Rainha, se quedavam num entretenimento de atenções recíprocas que o fuso se desprendeu das mãos da Rainha e galgou o varandim. E já se perdia livremente, no espaço, em queda vertiginosa. Rápidas, as aves descreveram círculos e conseguiram alcançar, antes de atingir o chão rochoso, o fuso da Rainha.
 De asas trementes, subiram até alcançar a janela e vieram depor no regaço da Rainha o fuso, onde se anicharam, num novelo de penas, à espera do gesto de gratidão e ternura que adivinhavam… e que, na verdade, não tardou.

Source
S/A, . Lendas e Outras Histórias , Escola Porfissional da Região Alentejo / Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz, 1995 , p.27-28
Place of collection
ESTREMOZ, ÉVORA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography