APL 1209 A madrinha dos Açores

Há muitos anos atrás, um falcoeiro lançou um açor sem ordem do rei e, como a ave se perdesse, o rei mandou que lhe cortassem a mão. O pobre falcoeiro, aflito, pediu ajuda à Virgem e, de repente, o açor pousou-lhe na mão. El-rei, vendo este milagre, não só perdoou o falcoeiro como mandou erigir, perto de Celorico da Beira, uma igreja dedicada a Nossa Senhora dos Açores.
 A Infanta D. Isabel, irmã do Infante D. Henrique, em pequenina ouvia contar a uma velha aia, que tinha uma casa para essas bandas, muitas histórias de milagres da Senhora dos Açores. Gravou na sua memória esses milagres e tornou-se muito devota da Senhora dos Açores.
 A notícia dos milagres da Senhora espalhou-se e o santuário no século quinze era visitado por muitos romeiros, sendo um deles Gonçalo Velho Cabral.
 Nos Paços do Limoeiro, Velho Cabral, já depois de ter sido chamado pelo Infante a participar nos descobrimentos, conversando com a Infanta D. Isabel, grande devota da Senhora dos Açores, prometeu dar esse nome a uma terra que descobrisse e ser ele o padrinho e ela a madrinha dessa terra.
 Gonçalo Velho Cabral partiu depois pelo Atlântico e, ao chegar à primeira ilha, deu-lhe o nome de Santa Maria. Aí encontrou uma linda gruta para os lados de S. Lourenço, a que deu o nome de gruta do Romeiro, lembrando as suas romagens a Nossa Senhora dos Açores.
 Cumpriu também a promessa feita à infanta D. Isabel e assim o nosso arquipélago passou a chamar-se Açores. Gonçalo Velho Cabral foi o padrinho e a Infanta D. Isabel a madrinha e colocaram as ilhas sob a protecção de Nossa Senhora.
 A Infanta, no entretanto, casou com o Duque de Borgonha e deixou Portugal, mas manteve-se muito devota da Senhora dos Açores e indicou a seu irmão muitos flamengos para virem ajudar a povoar as ilhas de que era madrinha. A Infanta levou vida santa e, quando morreu, foi sepultada na igreja da Cartuxa de Dijon, que foi transformada pela Revolução em asilo para doentes mentais.
 Muitos anos mais tarde, um recluso desse asilo viu sair do túmulo a Duquesa de Borgonha, a Infanta D. Isabel, majestosa no andar que com voz suave lhe disse:
 — Eu sou a Infanta de Portugal. Agora habito o céu e quero que tu digas às gentes das ilhas dos Açores que eu e Gonçalo Velho Cabral lhes pedimos para que se lembrem daquela que lhes deu o nome: Nossa Senhora dos Açores e Lhe dediquem ao menos uma igreja.
 Dizendo isto e dando-lhe mais alguns conselhos, desapareceu. Porém o desejo da madrinha dos Açores ainda continua por realizar-se porque não há nestas ilhas do Atlântico uma igreja dedicada a Nossa Senhora dos Açores.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.17-18
Place of collection
Açores, CELORICO DA BEIRA, GUARDA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography