APL 2904 [borborinho]

Antigamente, quando se dava um ciclone, nós chamava-lhos um borborinho e para nós era como se fosse o diabo.
O irmão do meu avô andava a trabalhar para o lado de S. Domingos, que fica no cruzamento de Alcains. Andava ele e mais uns homens. Quando estavam a almoçar formou-se um borborinho lá longe, e o irmão do meu avô disse: «Oh seu alma do diabo, vem aqui almoçar connosco!». E nisto o borborinho vai indo, vai indo até que chega ao pé deles. Eles tinham panelas no chão e quando se aperceberam do borborinho ali ao pé deles, taparam a sua parte como chapéu. O borborinho ali andou em volta das panelas e quando abalou, destaparam o seu almoço. O almoço dos homens estava bom, não lhes tinha acontecido nada, mas o almoço do irmão do meu avô estava coberto de porcaria que tinha sido levada pelo borborinho. Isto aconteceu na verdade ao irmão do meu avô, porque chamou alma do diabo ao borborinho.
Contava o meu avô que quando se deitava uma navalha para o meio do borborinho ela saía toda ensanguentada.

Source
SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira , Band, 2000 , p.21-22
Year
1991
Place of collection
Alcains, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
Collector
Gregória Maria Barata Rosa (F)
Informant
António Farias (M), 72 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography