APL 568 As bruxas da mata

Havia na Mata, uma senhora, já com 45 anos e não tinha filhos. Quando saía para a horta com o seu marido, dizia às suas vizinhas:
 — Oh! vizinha, se os meus chorarem, faz favor de os ir buscar; e dar de comer. As vizinhas respondiam: — “Nosso Senhor não é surdo, ainda a há-de castigar”. No ano seguinte, ficou grávida e teve 2 filhos gémeos. Como era de idade, não tinha leite que chegasse para os dois. Quem os criou foram duas cabras que ela possuia. Depois voltou a ficar grávida e teve um trio. Duas meninas e um menino, eles também foram alimentados com o leite das cabras.
 Havia por outro lado, um preconceito muito grande com respeito à existência das bruxas. Entre as 24h00 e o 1h00, ninguém saía à rua. Diziam que era a hora das bruxas se juntarem na encruzilhada das ruas para executarem suas danças e maldades. As pessoas acreditavam que existiam, apesar de nunca as verem. Desconfiavam de certas pessoas.
 Muitos casais descobriam-se uns aos outros. Se por acaso um delas acordasse a essa hora, e não visse seu companheiro(a) na cama, era porque ele (ela) também era bruxo(a). Então toda a gente ficava a desconfiar dele(a). Para fazer mal às pessoas, eles sacrificavam animais. Há quem diga que é verdade, pois foram vistas por duas vezes; numa oliveira, no seu último ramo mais fino, uma cobra enfiada pela cabeça num dos galhos do ramo, coisa extraordinária. A cobra nunca se ia enfiar nesse galho enfiando-o na boca até ao rabo. Depois o galho, por mais fino que fosse, e por mais gorda que a cobra fosse, este nunca vergava. Dizem as pessoas que isso só é obra das bruxas.
 Quem cozia pão, tinha o quarto onde este estava, sempre fechado à chave. Pois as bruxas divertiam-se com o pão. Levavam-no até à cozinha, faziam uma cruz no chão com o pão. Este ficava com a parte de baixo voltada para cima. Dizem os antigos que dá má sorte colocar o pão na mesa com a parte de baixo para cima.
 Minha avó, contou-me uma história passada com ela quando ainda era recém-casada.
 Meu avô, veio com o dinheiro do dia e deitou-o para cimo da mesa todo amarrotado. Minha avó foi fazer o comer e esqueceu-se do dinheiro. A irmã do meu avô foi lá a casa pedir um copo de água ao qual minha avó respondeu que podia beber em baixo pois estava mais fresca. Quando esta última abalou, minha avó lembrou-se do dinheiro. Foi ver e o dinheiro tinha desaparecido. Quando meu avô chegou, ela contou-lhe o sucedido, este não acreditou que a irmã fizesse uma coisa dessas. Tiraram tudo quanto havia em cima da mesa e sacudiram a toalha. Mas nada, nem rasto do dinheiro. Minha avó muito descontente pegou no balde da comida do porco e pô-lo na cabeça. Chegada entre as portas, voltou a olhar para a mesa e começou a lamentar a perda da jornada, pois fazia-lhe muita falta.
 De repente a sua atenção é chamada para um canto da toalha quadrada. Chamou meu avô e disse-lhe: — Ó Joaquim olha, olha bem. Vês o que eu vejo? Sim, respondeu este — é o dinheiro. Está como se colado, ponta contra ponta e como se tivesse sido passado a ferro. Ela ficou contente de encontrar o dinheiro mas ficou descontente de pensar que as bruxas andavam o brincar com ela. Pois a irmã do meu avô não podia nem que quisesse deixar a nota tão direitinha, nem negas.

Source
MOURA, José Carlos Duarte Contos, Mitos e Lendas da Beira , A Mar Arte, 1996 , p.23-24
Place of collection
Mata, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography