APL 1489 Ameixoeira ou Ameijoeira (Nossa Senhora da)

Este templo foi construido com grande magnificencia, no seculo XVII, segundo se collige da sua architectura.
[…]
Mas esta egreja não é a primitiva. Segundo o Sanctuario Marianno, e a tradição, no anno 700 de Jesus Christo já aqui existia uma capella dedicada á Virgem, e aqui assistiam, para o culto da mesma senhora, alguns eremitas. Quando os arabes invadiram a Luzitania (717) os taes eremitas, depois de enterrarem todos os objectos de culto divino, fugiram, ficando a capela abandonada.
Segundo o dito Sanctuario Marianno, Nossa Senhora tinha apparecido áquelles anachoretas, deixando, em testemunho d’esta apparição, gravados em uma pedra os vestigios de seus pés.
Em 1217, D. Soeiro Gomes, bispo de Lisboa, estando no convento de Montejunto, que havia fundado; em uma noite, olhando casualmente para a charneca, onde é (e já então era) a quinta da Ameixoeira, (que n’esse tempo pertencia a Nuno Gonçalves, vassallo d’el-rei) viu muitas luzes e ouvia uma harmoniosa musica.
Repetindo-se este espectaculo mais de uma noite, deu parte da apparição a D. Affonso II, que se achava sitiando Alcacer do Sal.
Tomada a praça, o rei se dirigiu ao sitio indicado, na companhia do bispo e dos principaes personagens da côrte, e ahi, mandando cavar, appareceu um cofre, que, apenas se tirou da terra, logo na cova que deixara rebentou uma copiosa nascente de agua, que ainda existe.
Aberto o cofre, achou-se n’elle a imagem da Senhora, a pedra sagrada, que continha o signal das suas pégadas, e dois pergaminhos. Dizia o primeiro: (traduzido do latim barbaro d’aquelles tempos)

«No anno de 717, em que entrou o agareno em Hespanha, com total destruição de templos e imagens, havendo já muitos annos que habitavamos este deserto, vendo as nossas vidas em perigo, nos deliberámos a o desamparar, para não vermos tão feras barbaridades e tão feios desacatos, e não podendo levar esta santa imagem, a deixamos aqui no mesmo logar.
Ella seja servida de se guardar das mãos dos barbaros. Amen.»

O segundo pergaminho dizia:

«Em nome de Deus Verdadeiro, esta pedra é a mesma em que a Virgem Santissima se dignou estampar as suas sagradas plantas, vindo em corpo e alma visitar esta ultima parte do mundo.
A 10 das kalendas de janeiro, era de 755 (31 de dezembro de 717 de Jesus Christo).
Seja o Senhor servido defendel-a das mãos dos mouros. Amen.»

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.tomo I, p. 197-198
Place of collection
Abrigada, ALENQUER, LISBOA
Narrative
When
17 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography