APL 2586 [As três mouras transformadas em fontes]

Eu lembro-me de um [conto] que era de uma moura ali em Loulé, que o meu tio me costumava contar… acho que é mais uma lenda. Havia um mouro que era muito rico e tinha três filhas e o que é que aconteceu? Quando houve a altura das cruzadas, dos portugueses tipo atacarem os mouros… eu não sei bem se eram cruzadas… os portugueses porem os mouros fora de Portugal, retomarem o território que os mouros tinham, então o que é que o mouro fez? O mouro era mágico, uma espécie de bruxo, e para que os portugueses não apanhassem as filhas dele ou as matassem, fez uma magia e transformou-as em fontes, ás três. E então qual era a ideia dele? Era voltar para depois as desencantar e elas voltarem a ser o que eram, mas o que acontece é que, como nós sabemos, os portugueses derrotaram os mouros e ele não pode voltar para salvar/desencantar as filhas. O que acontece é que ele tinha um criado que era fiel e que sabia infiltrar-se bem nas coisas e tal e então o que é que ele fez? Pediu ao criado para desencantar as filhas… explicou como é que era o procedimento e então, o procedimento era: ele deu três pães ao criado e o criado tinha que (cada pão tinha o nome da filha no fundo) e o criado tinha que dizer o feitiço, pronto o desencantamento, e na hora dizer o nome da filha que estava escrito no fundo do pão e a filha desencantava da fonte e passava outra vez a mulher.  Mas o que acontece é que os pães não podiam ser partidos, pronto não podiam ser tocados, tinham que estar intactos. O que acontece é que o criado levou os pães e escondeu os pães em casa, a mulher… pronto, quer dizer o marido a esconder as coisas? a mulher do criado viu-o a esconder coisas e quis saber o que era. Foi, viu que eram três pães... oh, como eram pães foi jogar a faca a um para cortar e viu sangue a sair do pão, o que é esquisito e viu que qualquer coisa não estava bem então, pegou no pãozinho, voltou a pô-lo no sitio menos o bocado que tinha cortado e pronto… fez como se não tivesse sido nada. Ele uma noite, na noite de São João que era como…era o procedimento, ele tinha que ir na noite de São João à meia-noite quebrar o feitiço. Ele pegou nos pães, foi até às fontes, disse o feitiço, disse o nome de uma e ela ficou outra vez uma rapariga normal. Disse o nome de outra e ela ficou outra vez normal. Foi a outra e o que acontece é que ele ia dizer o nome dela e o nome não estava no fundo do pão, tinha sido o bocado que a esposa dele tinha cortado e ele não sabia. Então, ela não consegui, pronto nunca mais desencantou de fonte para humana então, a essa fonte chamam-lhe a fonte Cassima que esta em Loulé. E eles dizem que pronto, pessoas que moram lá, pessoas que moram ao pé da fonte que ouve a fonte a chorar e dizem que é essa rapariga por nunca ter desencantado da fonte.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2005
Place of collection
LOULÉ, FARO
Collector
Sara Cabrita (F)
Informant
Rui Cristina (M), 22 y.o., born at FARO (FARO),
Narrative
When
13 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography