APL 1433 A Ermida de Nossa Senhora dos Milagres

Lá pelo século dezasseis, num dia de mar manso, andavam uns homens nos calhaus do Porto da Casa a apanhar peixe ou a procurar restos de madeira trazidos pelo mar. Inesperadamente deram com um pequeno caixote à beira da água, muito bem feito e que despertou logo muita curiosidade. Abriram-no com cuidado e tiveram uma grande alegria quando encontraram dentro uma pequena imagem de Nossa Senhora do Rosário.
 A notícia correu pelo pequeno povoado e toda a gente se juntou para ver a Santinha. Alguém reparou que a imagem trazia um escrito que logo foi decifrado pelos poucos que sabiam ler. Dizia assim a inscrição: “No lugar onde eu sair, façam-me uma ermida.”
 As pessoas ficaram muito animadas e, embora não tivessem muitas posses, decidiram que se haviam de juntar e construir uma ermidinha no Alto da Rocha.
Passado algum tempo, a notícia de que uma imagem da Senhora do Rosário tinha aparecido no Corvo espalhou-se pelos Açores e chegou a Lisboa. Daí veio alguém para levar a imagem. O povo do Corvo ficou revoltado por se quererem apossar do que era seu, mas não pôde fazer nada.
 A imagem foi levada para qualquer templo em Lisboa. Aí uma coisa estranha começou a acontecer: Nossa Senhora amanhecia todos os dias com o manto molhado, como se tivesse feito uma grande viagem por mar. E assim era. A Santinha aproveitava a noite para vir visitar a pequena ilha do Corvo onde queria estar.
 Os padres de lá começaram a ficar perturbados com o acontecimento inexplicável. Até que um disse:
 — Esta santa não se quer aqui. Ela, desde que cá chegou, o manto está sempre alagado. Isto é um sinal. Ela tem de ir para onde saiu.
 Alguns concordaram e outros não, mas, passado algum tempo, durante o qual o estranho acontecimento se continuava a dar, mandaram a imagem de volta para o Corvo.
 A alegria do povo foi grande quando recebeu a sua Santinha. Fizeram-lhe uma pequena ermida sobre a Rocha, sobranceira ao Porto da Casa, onde ela tinha aparecido e queria ter a sua morada. Dali passou a proteger os corvinos e a fazer muitos milagres pelo que a baptizaram com o nome de Nossa Senhora dos Milagres.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.286-287
Place of collection
Corvo, CORVO, ILHA DO CORVO (AÇORES)
Narrative
When
16 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography