APL 1222 Lenda da Cruz e da Ermida dos Anjos

Lá pelo século dezasseis, ainda não havia uma ermida nos Anjos, mas as pessoas tinham uma grande vontade de construir um pequeno monumento, naquele lugar em que Gonçalo Velho e os seus marinheiros tinham desembarcado e onde tinham rezado a primeira missa nas ilhas.
 Resolveram, por fim, construir a ermida dos Anjos e a população dizia que o melhor sítio era no lugar mais baixo. As pessoas que estavam a fazer a construção não deram ouvidos aos seus pedidos e começaram a juntar a pedra em cima da rocha. Mas as pedras que eram ali postas pelos trabalhadores, na manhã do dia seguinte, sem se saber como, apareciam lá em baixo, no sítio onde hoje está construída a ermida. Este acontecimento estranho começou a incomodar as pessoas e os mestres da obra começaram a acusar a população, dizendo: 
 — São eles que acartam a pedra de noite para o lugar onde queriam. Estão bem enganados! Aqui em cima é que vai ser!
 Os dias foram passando e o caso foi-se repetindo, mas a população, apesar de acusada, não se denunciava.
 Certa noite, um pescador, ao passar pelo lugar, deparou-se com uma coisa estranha: as pedras moviam-se sozinhas em direcção ao lugar mais baixo. Foi contar o que tinha visto ao chefe da obra e todos os trabalhadores se começaram a rir do pescador. Ele não se acanhou e disse:
 — Vamos todos logo à noite ao lugar onde vocemecês têm as pedras.
Assim foi. Quando chegaram lá, puseram-se à espreita e começaram a ver as pedras a rolar e a seguir a imagem de Nossa Senhora.
 Ninguém teve mais dúvidas. Resolveram construir a ermida onde Nossa Senhora desejava. A assinalar o lugar que primeiro tinham escolhido para a construção e que tinha sido rejeitado por Nossa Senhora puseram uma cruz de pedra, que ainda hoje está sobre o pequeno monte.
 A imagem de Nossa Senhora que os marinheiros portugueses tinham trazido consigo ficou a enfeitar a primeira igreja dos Açores. Nos Anjos puseram também um tríptico do século quinze, representando a Sagrada Família e os mártires São Cosme e São Damião, que tinha sido o altar da caravela de Gonçalo Velho.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.35-36
Place of collection
VILA DO PORTO, ILHA DE SANTA MARIA (AÇORES)
Narrative
When
16 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography