APL 3476 Nossa Senhora dos Milagres, de Porto da Casa, ilha do Corvo

Lá pelo século XVI, num dia de mar manso, andavam uns homens nos calhaus do Porto da Casa a apanhar peixe ou a procurar restos de madeira trazidos pelo mar. Inesperadamente deram com um pequeno caixote à beira da água, muito bem feito e que despertou logo muita curiosidade. Abriram-no com cuidado e tiveram uma grande alegria quando encontraram dentro uma pequena imagem de Nossa Senhora do Rosário.
    A notícia correu pelo pequeno povoado, e toda a gente se juntou para ver a santinha. Alguém reparou que a imagem trazia um escrito, que logo foi decifrado pelos poucos que sabiam ler. Dizia assim a inscrição: «No lugar onde eu sair, façam-me uma ermida».
    As pessoas ficaram muito animadas e, embora não tivessem muitas posses, decidiram que se haviam de juntar e construir una ermidinha no Alto da Rocha. Passado algum tempo, a notícia de que uma imagem da Senhora do Rosário tinha aparecido no Corvo espalhou-se pelos Açores e chegou a Lisboa. Daí veio alguém para levar a imagem. O povo do Corvo ficou revoltado por se quererem apossar do que era seu, mas não pôde fazer nada.
    A imagem foi levada para qualquer templo em Lisboa. Aí, uma coisa estranha omeçou a acontecer: Nossa Senhora amanhecia todos os dias com o manto molhado, como se tivesse feito uma grande viagem por mar. E assim era. A santinha aproveitava a noite para vir visitar a pequena ilha do Corvo, onde queria estar.
    Os padres de lá começaram a ficar perturbados com o acontecimento inexplicável. Até que um disse:
    — Esta santa não se quer aqui. Desde que ela cá chegou, o manto está sempre alagado. Isto é um sinal. Ela tem de ir para onde saiu.
    Alguns concordaram, e outros, não, mas, passado algum tempo, durante o qual o estranho acontecimento se continuava a dar, mandaram a imagem de volta para o Corvo.
    A alegria do povo foi grande quando recebeu a sua santinha. Fizeram-lhe uma pequena ermida sobre a rocha, sobranceira ao Porto da Casa, onde ela tinha aparecido e queria ter a sua morada. Dali passou a proteger os Corvinos e a fazer muitos milagres, pelo que a baptizaram com o nome de Nossa Senhora dos Milagres.

Source
FRAZÃO, Fernanda Passinhos de Nossa Senhora - Lendário Mariano Lisbon, Apenas Livros, 2006 , p.17-18
Place of collection
CORVO, ILHA DO CORVO (AÇORES)
Narrative
When
16 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography