APL 1221 Fonte de Maria Feia

No Valverde havia um viúvo que tinha uma filha ainda mocinha, chamada Maria, que era toda a alegria que lhe restava. A certa altura, o homem, que tinha de trabalhar por fora e ainda de cuidar da casa, resolveu dar um rumo à sua vida. Havia no lugar uma mulher viúva, sem filhos, e ele achou que o melhor que podia fazer por si e pela pequena era um casamento com a dita mulher.
 Concordaram e casaram. A princípio a madrasta, para agradar o marido, tratava bem Maria, mas, com o passar do tempo, as coisas mudaram e passou a ser muito má para ela. Dava-lhe da pior comida que tinha, desdenhava dela e chamava-lhe Maria Feia. Como não, queria a rapariga todo o dia em casa a ver o que fazia, pediu ao marido que arranjasse umas cabras para Maria ir vigiar.
 Dava-lhe um bocadinho de pão de milho duro para ela comer e a rapariguinha caminhava ao amanhecer e só podia voltar à noitinha para casa.
 Um dia, lá foi vigiar as cabras, como era costume, para o lugar de Valverde. O dia esteve muito quente, a rapariguinha deu-lhe muita sede, mas não tinha nada para beber.
 Como era muito boa, começou a rezar o terço e pediu a Nossa Senhora que lhe deparasse água, porque não podia voltar ainda para casa, pois tinha medo da madrasta.
 Estava a rezar quando apareceu uma senhora muito bonita ao pé dela e lhe disse:
 — Esgravata aí, esgravata, que há-des achar água. E essa água há-de ser tão boa que o povo doente desta ilha que a beber há-de escapar.
 Maria Feia ficou muito admirada, mas tanta era a sede que acreditou na senhora e começou a esburacar a terra com quanta força tinha. A certa altura, a água começou a brotar. Maria lavou as mãos, fez uma concha com elas e matou a sede.
 Contou a alguém o que tinha acontecido, a notícia espalhou-se e as pessoas passaram a chamar àquela nascente de água “Fonte de Maria Feia”.
 Essa fonte matou a sede a muitos caminhantes e curou muita gente, principalmente quando o doutor Guerra e Sá veio para Santa Maria e mandava buscar garrafões dessa água para os doentes beberem.
 A Fonte de Maria Feia ainda lá está no Valverde, mas toda abandonada, quase coberta de silvados e outras ervas e é desconhecida de muita gente de Santa Maria.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.34-35
Place of collection
VILA DO PORTO, ILHA DE SANTA MARIA (AÇORES)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography