APL 672 Lenda de São Macário

A dominar a viçosa e linda Cova da Beira, ergue-se, em pequeno cabeço, a meio da encosta da Serra da Gardunha, uma modesta capelinha dedicada a São Macário milagroso, que, na crença do povo, cura sete males de alma e sete males do corpo.
 Reedificada e ampliada pelos povos vizinhos (Alcaide, Alcongosta, Donas, Fatela e Vale de Prazeres) sobre a que fora erigida pela devoção de um soldado que foi à guerra dos franceses, e que, conhecedor da vida e milagres de São Macário, prometera construi-la se regressasse à sua terra, merece bem, pela sua posição, uma visita de quantos se deleitam com a formosura dos recantos lindos da nossa Beira Baixa, geralmente em plena concordância com a beleza das tradições e costumes do seu povo.
 A Ribeira da Giralda, que corre ali próximo a mover, com suas águas sussurrantes, moinhos e azenhas, e a dessedentar a terra onde vicejam hortas e pomares, em que se destacam, pelo verde-negro da sua vegetação exuberante, formosos exemplares de altas nogueiras e castanheiros, dá ao sitio especial encanto.
 Pois todos os anos, no quarto domingo da Quaresma, o adorado São Macário é conduzido em procissão, no seu andor, do Alcaide para a sua capela, e, também todos os anos, o hábito velho, depois de substituido por um novo, é retalhado em pequenos pedaços de pouco mais ou menos dois centímetros quadrados, que, por ser crença geral, que metidos nos ouvidos, curam as doenças destes órgãos e as dores de cabeça, são vendidos aos romeiros, que os disputam.
 O produto da venda dos pequenos retalhos é aplicado nas despesas de reparação da capela, e na festa.
 Os romeiros, no dia da romaria, e o povo durante todo o ano, bebem água da fonte de São Macário, que brota do sopé do cabeço, porque, como os pedaços do hábito, tem a propriedade de curar várias doenças, entre as quais as sezões.
 No dia da festa, o povo canta:

— Glorioso São Macário,
Bem me podeis ajudar
Pois vim á vossa festa
Para vos ver e adorar.

— Glorioso São Macário,
Que dais aos vossos romeiros?
— Água da minha fonte,
Sombra dos meus castanheiros.

— Glorioso São Macário,
Que morais no cabecinho
Onde não há outra flor
Senão a do rosmaninho.

— Glorioso São Macário,
Que dais a quem vos vai ver?
Dou água da minha fonte
P’ra quem a queira beber.

Source
DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira Coimbra, Alma Azul, 2002 , p.101-102
Place of collection
Donas, FUNDÃO, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography