APL 140 Lenda de São Saturnino — Pedrosas

Lá em tempos muito antigos, quando ainda havia moiros na lavoura dos que ficaram entre os cristãos vencedores, andava um deles a guardar os bois do patrão, no alto que agora se chama de São Saturnino, nas Pedrosas e, uma bela manhã, encontrou, escondida num silvado, no cimo do monte, a imagem do Santo, para ali levada, com certeza, aquando da segunda invasão àrabe, no tempo do Almansor, rondava o ano 1.000.
 Tirando da sacola o bocado de pão duro e seco, que era toda a sua merenda, virou-se para o Santo, cujo nome havia ficado na memória já esmaecida da tradição, e diz-lhe: ó meu Santo Saturnino, ó meu Santo Saturnão, dá-me azeite, por favor, para molhar o meu pão.
 E todos os dias levava para lá os bois, que, ao contrário dos outros do lugar, andavam sempre nedios, gordos e bem tratados.
 Perguntaram então ao dueiro: Porque é que os teus bois andam assim tão gordos? O que é que eles lá comem? E o moço, discretamente e aos poucos, ia desvendando o segredo: É o Santo Saturnino que os faz andar assim.
 Souberam, pois, que tinha sido descoberto São Saturnino, no cimo do monte, e trataram de fazer uma capela cá baixo, na povoação, onde o colocaram e lhe fizeram uma grande festa.
 Mas, passados poucos dias, foram lá e não o encontraram. Tinha fugido novamente para o alto do monte. Voltaram a trazê-lo e o Santo de novo voltou para o lugar onde tinha sido encontrado.
 E andaram nisso muito tempo até que, com ladaínhas, preces, votos e cramois, lhe pediram para ficar na capela a fim de estar mais perto das pessoas e dos seus animais, garantindo-lhe que aquele alto havia de ficar sempre com o seu nome, e o povo havia de lá ir muitas vezes, principalmente na Quaresma e no dia da festa. E que um dia haviam de construir um Santuário lá no cimo do monte, que desde então ficou-se a chamar-se “O Monte de São Saturnino”.
 Condoído e levado pelos rogos suplicantes do povo, o Santo acedeu e, desde então, nunca mais se ausentou da capela que lhe construíram, cá baixo, no meio da povoação.
 E todos os domingos vinha tanta gente, de perto e de longe, à missa a São Saturnino das Pedrosas, que, dessa afluência nasceu uma praça semanal, ainda hoje existente, multiforme e muito frequentada.

Source
SOUSA, Albano Martins de Terras do Concelho de Sátão Satao, Câmara Municipal do Concelho de Sátão, 1991 , p.340-341
Place of collection
SÁTÃO, VISEU
Narrative
When
11 Century,
Belief
Some Belief
Classifications

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