APL 3322 Messejana

Pelos annos 1600, D. Brites Braudôa, mulher de D. Braz Henriques, embaixador de Portugal (por Philippe III), ao papa Clemente VIII, vivia na sua quinta de Messejana; e aqui desejou ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Escreveu a seu marido, para que lhe mandasse fazer em Roma uma imagem da Santissima Virgem, ao que elle logo annuiu, e lhe mandou uma perfeitissima imagem de Nossa Senhora, no mysterio augusto da sua Conceição.
Passados annos (diz a lenda) e terminada a commissão de D. Braz Henriques, regressava elle á patria, por mar; porém encontrando-se o seu navio com um chaveco de mouros, estes o levaram captivo, com o resto da tripulação.
D. Braz, invocava dia e noite a protecção de Nossa Senhora da Conceição, para que o livrasse dos ferros, e eis que uma manhan appareceu na sua quinta, ainda com os grilhões do captiveiro.
Em reconhecimento de tão grande milagre, resolveu erigir uma bôa capella a Nossa Senhora, e principiou logo a pôr em pratica o seu projecto, com bastante magnificencia; porém a morte que lhe sobreveiu, o não deixou concluir a obra, que ficou apenas na capella-mór.
D. Brites tomou á sua conta a conclusão da obra, e acabada a ermida, foi n’ella collocada a Santa imagem, que logo principiou a obrar muitos milagres, e tão grandes maravilhas, que chegaram á noticia de Philippe III, o qual mandou dar á Senhora duas arrobas de cêra em cada anno, pagas pelo almoxarifado de Santarem, por um padrão que lhe concedia esta renda, até ao anno de 1620; mas depois, o mesmo Philippe III a fez perpétua.
Em janeiro de 1629, vendo-se D. Brites em perigo de vida, fez o seu testamento, em 31 do dito mez, e por elle instituiu um vinculo, ao qual uniu todas as suas fazendas, sendo a primeira e principal, a sua quinta de Messejana.
Eram estes fidalgos, padroeiros do convento de recolectos da Lourinhan (onde estão sepultados, na capella-mór), e quiz D. Brites que o morgado ficasse obrigado ao padroado do convento e aos seus encargos, que eram 33$000 réis annuaes, de ordinaria, para os religiosos, e um moio de trigo e 4$000 réis, para duas merceeiras, que resassem pelas almas dos padroeiros.
Não teve D. Brites, filhos do seu casamento, pelo que nomeou para primeira successora no vinculo, a D. Maria de Almeida Brandôa, e a seus filhos; e, na falta d’elles, a seu irmão, Francisco Serrão de Almeida.
Por morte d’estes, veiu a Antonio de Brito da Silva, avô de D. Francisca Antónia Ente Brandôa, que casou com Rodrigo Pereira, pae de D. Maria Caetana Brito.
O testamento de D. Brites e a instituição do vinculo, causaram entre os seus parentes, demandas encarniçadas, e o culto de Nossa Senhora foi interrompido, e a capella esquecida e abandonada; chegando até a servir de arrecadação de generos e instrumentos de lavoura. Pelos anuos de 1700, era o dito Rodrigo do Sousa Pereira Mascarenhas, pacifico possuidor d’este vinculo.
Tinha este fidalgo uma filha, de 9 para 10 annos de idade (a referida D. Maria Caetana de Brito) a qual foi accommettida de uma molestia de olhos; e os medicos, taes remedios applicaram para a cura da doença, que menina ficou paralitica.
Fizeram-se juntas de medicos, a que foram chamados os melhores da côrte, e os da camara do rei; mas o resultado foi que aos padecimentos da doente se juntou ainda a obstrucção.
Residiam os paes da menina em Lisboa, e esgotados todos os meios empregados prejudicialmente pela medicina, e sabendo por tradição, dos muitos milagres que obrara Senhora da sua capella de Messejana, a mandaram hir a Lisboa, onde a collocaram sobre uma mesa, e trouxeram para junto d’ella a menina, que, só com o contacto da santa imagem ficou quasi restabelecida, em poucos dias ficou completamente san de todas as suas enfermidades.
Teve logar este milagre em setembro de 1702, e Rodrigo de Sousa fez uma petição ao ordinario, para que elle se mandasse authenticar.
Fizeram, o pae, a mãe e a menina, uma romaria á capella da Senhora, que tinham mandado restaurar; e a fama d’este novo milagre (o da cura de D. Maria Caetana) em breve percorreu todos os arredores de e o culto e as romarias á capella de Nossa Senhora da Conceição tornaram restabelecer-se,
A imagem é de jaspe branco, e de primorosa esculptura. Os pôvos entendendo que o pó da pedra de que a Senhora é feita, seria remedio efficaz para todos os seus achaques, a raspavam constantemente, a ponto de já estar muito gasta nas costas; pelo que os padroeiros da capella obstaram a este pio desacato.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo V, pp. 201-202
Place of collection
Messejana, ALJUSTREL, BEJA
Narrative
When
17 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography