APL 1401 O Convento de S. Pedro de Alcântara

Dizem que foi no ano de mil setecentos vinte e um que alguns frades franciscanos, nomeadamente José da Conceição, escravo feito homem livre e rico por doação do seu senhor, se empenharam na construção do seu convento, no Cais do Pico. As dificuldades eram muitas a nível de dinheiro e principalmente por causa da falta de água.
 Os religiosos não desanimaram e José da Conceição partiu para o Brasil em busca de algum dinheiro e madeira de qualidade.
 O resto da pequena comunidade de franciscanos, constituída pelos irmãos Francisco do Pilar, Manuel do Rosário, Pascoal de Santa Catarina e outros, ficou e todos trabalhavam com fé. Uns foram para o mato, armaram tendas e, durante semanas a fio, cortaram cedros e eixo. Outros ficaram na vila, à beira-mar, e começaram a cavar os alicerces. Alguns escavavam constantemente poços de maré que lhes fornecessem água doce, essencial às suas obras e tão difícil de arranjar em quase toda a ilha do Pico. Cavaram o chão dias a fio com pás, picaretas e enxadas, mas a toda a hora só deparavam com terra e pedra.
 Uma tarde, já quase de noite, depois de muito trabalho, atiraram com as pás, desanimados e tentados a desistir. A noite, porém, nas suas orações, pediram ao Senhor fervorosamente que lhes deparasse água, para que pudessem construir o convento.
 Logo de manhã, ao nascer do sol do dia seguinte, levantaram-se para recomeçar a sua labuta. Os gorjeios dos pássaros alegravam a manhã e à mistura ouvia-se um baralho estranho que vinha dum cerrado, ali perto. Correram para lá e viram grande número de caranguejos, que fervilhavam numa cova à procura de água. Os religiosos correram, trouxeram pás e picaretas, adivinhando alguma novidade. Cavaram cheios de entusiasmo e a alguns metros de profundidade, milagrosamente, surgiu a água, fresca e boa para consumo.
 Abraçaram-se cheios de alegria e agradeceram a Deus porque lhes tinha deparado água. Alguns anos mais tarde, o Convento de Alcântara ficou pronto, graças à determinação dos frades, à generosidade do povo e ao milagroso aparecimento de água.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.244
Place of collection
LAJES DO PICO, ILHA DO PICO (AÇORES)
Narrative
When
1721
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography