APL 3380 Penamacor (2)

Tres kilometros a O. da villa, em uma formosa planicie, está a bonita e grande capella de Nossa Senhora do Incenso. E um templo antiquíssimo, mas não se sabe quando nem por quem foi fundado.
    A imagem da padroeira, é de pedra, de boa esculptura, com 0m,66 d’alto. O Menino Jesus, é de madeira, (Segundo a tradição, era tambem de pedra, mas um devoto o furtou, deixando ficar o actual.)
    O nome primitivo d’esta imagem, era Nossa Senhora do Prado, e assim se vê em escripturas antigas, de propriedades confinantes com a capella.
    Diz a lenda, que a mudança do Prado para o Incenso, foi porque – estando um bispo da Guarda em perigo de vida, invocou a protecção d’esta Senhora, e em breve se achou com perfeita saude. Em acção de graças, foi em romaria á sua capella, levando todos os preparativos para alli dizer missa de pontifical. Chegada a occasião, viu que lhe esquecêra o incenso, o que muito o contrariou, por ficar a villa a meia legua de distancia; mas, pegando na navêta, ainda havia pouco vazia, a acharam cheia de incenso.
    Dizem outros que esta ermida esteve originalmente em um sitio chamado Valle do Incenso, a 6 kilometros da actual, e que é d’esta circumstancia que lhe provém o nome.
    Innumeraveis são os milagres attribuidos a esta Senhora, com a qual os povos de muitas leguas em redor teem uma devoção particularissima: mencionarei os mais notáveis.
    No principio do anno de 1702, houve em todo o reino medonhos temporaes. O clero e povo de Penamacôr, foram em procissão buscar a Senhora, para a egreja de S. Thiago, e logo no mesmo dia cessou o temporal.
    Não tinha chovido n’esse inverno, e os lavradores estavam em risco de perderam as suas sementeiras. Recorreram á Senhora, que ainda estava na egreja de S. Thiago, e a levaram em procissão para a sua capella, a 17 de março. Logo n’essa mesma noite choveu grande abundancia d’agua.
    Em 1644, um soldado castelhano, de cavallaria, entrou, mesmo montado, na capella, para roubar as joias da Senhora; mas, chegando aos degraus do altar, não poderam passar adiante, e fugiram sem que o soldado effectuasse o roubo sacrílego. Ainda hoje se vê, impressa em uma pedra do pavimento da capella, uma das ferraduras do tal cavallo.
    Perto da ermida, corre a ribeira de Seife, e ha n’ella um profundo pégo, chamado Estillo. João de Almeida, alferes da guarnição da praça do Penamacôr, era um homem excessivamente melancolico. Em um dos seus mais insupportaveis ataques hypocondriacos, decidiu suicidar-se. Era uma noite tempestuosa. Encheu os bolsos dos calções e da caçaca, de pedras, para mais facilmente hir fundo, e se atirou ao pégo do Estillo. Perdeu os sentidos, e, quando os recobrou, achou-se á porta da capella da Senhora, e perdeu a mania do suicidio.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VI, p. 594
Place of collection
Penamacor, PENAMACOR, CASTELO BRANCO
Narrative
When
17 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography