APL 2574 A costureirinha

A minha avó contava, porque é assim, nós vivíamos no campo e fazíamos fogo de lenha, fazíamos malhas, rendas e tudo à beira da lareira e quando fazia trovões nós tínhamos muito medo, e a minha avó dizia para não termos medo mas sim respeito, e deveria ser respeitado porque no tempo dela, mesmo muitos anos atrás, havia uma lei até que as pessoas quando faziam trovoadas tapavam os espelhos por causa da trovoada, dos relâmpagos, para não os atrair, não costuravam à máquina, não lidavam com máquinas, etc.
E, conta a minha avó, que não se deve trabalhar em certos dias do ano, na Páscoa, não se deve torcer a roupa, não se deve fazer muita coisa e uma delas é costurar à máquina. E esta lenda da costureirinha segundo a minha avó é que ela tinha falta de trabalhar e não respeitava e como não respeitava ela estava a trabalhar à maquina num dia de trovoada, num dia de tempestade e alguém lhe disse: - menina não trabalhe neste dia porque este dia é respeitado por Deus e pelas trovoadas nunca se trabalha. E ela respondeu: - não tenho medo de nada, preciso de ganhar e vou costurar o dia inteiro! E ela ao falar isto, caiu-lhe um relâmpago, um trovão e queimou-a a ela e à máquina, queimou tudo e ela morreu. Então, contam as pessoas que ela aparecia (isto deve ser superstição das pessoas, não sei), ouvia-se dentro das quartas de água, nas paredes, ouvia-se em muitos sítios, uma máquina a trabalhar, uma máquina de costura. Então as pessoas diziam que era a costureirinha pela maldade que tinha feito, por não ter respeito pelo trabalho dos outros.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2005
Place of collection
OURIQUE, BEJA
Collector
Ângela Valadas (F)
Informant
Jacinta (F), 50 y.o., born at OURIQUE (BEJA),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography