APL 913 O Monte Farinha e a S.a da Graça

No Concelho de Mondim de Basto, a 10 quilómetros da Vila, levanta-se, imponente e majestoso, quase a tocar o céu, o bem conhecido Monte Farinha, com uma linda ermida dedicada a N. S.a da Graça.
 Daí se lobriga um vasto e deslumbrante panorama, com o Rio Tâmega, lá longe, a espreguiçar-se, languidamente, entre freixos e amieiros; o casario branco, a emergir da verdura das videiras, encavalitadas nas árvores; e pinhais, muitos pinhais, a perder de vista.
 Aí se deslocam muitos forasteiros, vindos de longe, ávidos de emoções fortes, para regalarem a vista na policromia da paisagem, e os romeiros das terras de Basto, impelidos pela fé, para cumprirem as promessas feitas à Senhora, em horas de aflição.
 Ora um local, assim privilegiado pela natureza e pela religião, tinha todos os ingredientes necessários para que a lenda aparecesse. E apareceu.
 Se o leitor quer saber a razão do topónimo Monte Farinha e do antropónimo S.a da Graça, preste bem atenção à história contada pelos mondinenses.
 Há muitos, muitos anos, andava um pobre moleiro pelas terras de Basto, com uma velha carroça de madeira, puxada por um não menos velho jerico, onde levava um moinho que era o seu ganha-pão.
 Percorria todas as povoações daquelas redondezas, tocando uma gaita de capador, para anunciar a sua chegada. Ao ouvi-la, as pessoas acorriam ao largo da aldeia, com sacos de milhão, que trocavam por farinha.
 Depois, continuava o seu fadário, cantarolando ao ritmo das ferraduras do pacato ruço, com o moinho sempre a moer o grão, para retomar a troca nas povoações seguintes.
 Certo dia, encontrou no caminho uma graciosa senhora que caminhava a pé, sob um sol escaldante, e parou, compadecido, para a levar na sua carroça. Quando chegou perto de Mondim, avistou um bando de mouros que vinham ao seu encontro para lhe roubarem a farinha e o grão. Sem possibilidades de lhes fazer frente, chicoteou o jerico, para se escapar. Mas o animal, assarapantado, meteu uma pata entre dois grandes calhaus e não conseguia libertar-se.
 Para o fazer sair daquele buraco, o moleiro apeou-se da carroça. Mas, enquanto puxava pela perna do jumento, chegaram os mouros que o mataram. Nesta compita, a senhora, amedrontada, sem saber o que havia de fazer, saltou da carroça para cima duma pedra alta, ao lado, e disse, muito aflita:
 - Abre-te, pedra! Faz-me esta graça!
 E a pedra abriu-se imediatamente. Deixou entrar a senhora e tornou a fechar-se tão rapidamente como se abrira.
 Então, os mouros, ao verem aquele espantoso fenómeno, deixaram a farinha e o grão, e deram às de vila-diogo.
 Entretanto, o moinho, desgovernado, continuava a moer.
 Moeu... moeu… moeu..., até se formar um monte muito alto de farinha, só parando quando já não tinha mais grão para moer.
 As pessoas das localidades vizinhas, ao darem por aquele estranho acontecimento, acorrerem ao local e exclamaram, muito admiradas:
 - Ih! Que monte de farinha!
 Desde então para cá, aquele sítio ficou a chamar-se Monte Farinha.
 Quanto à senhora, lá continua escondida, para sempre, na Pedra Alta, com medo dos mouros.
 O povo, que atribuiu o milagre à intervenção de Nossa Senhora, construiu uma capelinha branca, lá no alto do monte, para Lhe agradecer a graça feita à senhora da Pedra Alta, e deu-lhe, por isso, o nome de Senhora da Graça.

Source
FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis Vila Real, Edição do Autor, 1999 , p.64-66
Place of collection
Mondim De Basto, MONDIM DE BASTO, VILA REAL
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography