APL 1214 Santa Maria

Era no século quinze. Nesse tempo muita gente tinha vontade de descobrir novas terras. A frente de todos esses portugueses estava o Infante D. Henrique, fundador da escola náutica de Sagres. Gonçalo Velho Cabral era um marinheiro querido do Infante, frade muito devoto de Nossa Senhora e um desses homens que sonhavam com outras terras. Saiu de Portugal e fez-se ao mar, fazendo promessa de baptizar a primeira terra que encontrasse com o nome da Mãe Santíssima.
 A viagem foi custosa e demorada, mas a esperança não faltava e, por isso, o vigia, no cesto do mastro, olhava desde a madrugada até o anoitecer para o horizonte, animado pela ideia de que um dia, inesperadamente, uma nova terra havia de aparecer. Gonçalo Velho e os outros marinheiros rezavam muito a Nossa Senhora.
 Entre calmarias e tempestades chegou o Verão, mais propriamente o dia de Nossa Senhora de Agosto. A manhã começou a raiar, clara e suave. O gajeiro já estava no seu posto de trabalho na gávea e olhava em frente. Uma nuvem diferente apareceu, foi ganhando forma e, em vez de se desfazer, tornou-se cada vez mais real. A dada altura o marinheiro de vigia não teve mais dúvidas. Ficou sufocado de espanto e pronunciou só para si:
 Oh! É terra que está ali...
 Depois, com toda a força do seu corpo e da sua alma, elevou a voz
que todos pudessem ouvir e gritou:
 — Terra à vista! Terra à vista! Terra à vista!
 Gonçalo Velho, os frades e os restantes marinheiros tinham começado o dia, como sempre, rezando o terço para que Nossa Senhora os protegesse e lhes deparasse o que procuravam. Quando o gajeiro lançou o grito, já tinham rezado a “Avé-Maria” e nesse preciso momento, pronunciavam “Santa Maria...”.
 Houve grande alegria entre os marinheiros que se abraçaram comovidos. Gonçalo Velho considerou ter-se dado um milagre de Nossa Senhora a lembrar-lhe a promessa que tinha feito.
 Aproximaram-se de terra, puseram pé na primeira ilha dos Açores a ser encontrada e logo ali a baptizaram de “Santa Maria”, expressão que os marinheiros pronunciavam quando a ilha foi avistada.
 Esta, fé de Gonçalo Velho passou para os marienses que ainda hoje têm grande devoção a Nossa Senhora e festejam efusivamente Santa Maria de Agosto.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.25-26
Place of collection
VILA DO PORTO, ILHA DE SANTA MARIA (AÇORES)
Narrative
When
15 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography