APL 3383 Pereira-Jusan

A Mina dos Mouros (que nunca teve mais comprimento do que o actual, o que se evidenceia pelo seu emparedamento) é objecto de grandes cuidados para a gente do sitio, crendo firmemente que lá dentro existe uma moura encantada, guardando grandes thesouros. Teem-lhe feito em redor algumas escavações, mas dizem que chegando a certo sitio, não ha picão que entre com a rocha. Já se vê que é resultado do encanto. Vendo que o penêdo se não movia, tentaram o ultimo recurso – aspergiram o com agua benta e fizeram-lhe rezas; mas foi o mesmo que nada: o thesouro continuou a ficar encantado!
    Uma mulher da villa de Pereira-Jusan, resolveu desencantar isto, em uma manhan do S. João, por meio de rezas, feitas em fórma, por um padre; mas, como se esqueceu de que o segredo é a alma do negocio, divulgou o seu plano, e muita gente concorreu á Mina dos Mouros, na tal manhan. Ao aproximarem-se, ouviram ladrar dois cães, e tomando isto por bom agouro, voaram para a mina.
    Alli, em logar da moura, estava o proprietario do terreno, e os dois cães. Aquelle disse ao povo, muito séria e muito terminantemente, que – visto a mina encantada estar na sua propriedade, quantos thesouros alli apparecessem, eram todos d’elle, e só d’elle. Houve ditos e altercações, de parte a parte, e, por fim, ninguem cavou na terra, nem se fizeram as rezas; e lá continuou a ficar tudo encantado.
    Até hoje, ninguem mais se tornou a lembrar de desencantar a moura.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VI, pp. 684-685
Place of collection
Válega, OVAR, AVEIRO
Narrative
When
19 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography