APL 1654 Lume novo afugenta as almas

Na casa duma viúva via-se todas as noites à ceia, uma borboleta branca andar a apanhar as migalhas que caíam da mesa. Desconfiou-se que aquilo era alma, e bem que a borboleta fosse branca e não preta, portanto uma alma ainda não perdida. Fez-se lume novo do canhoto do Natal na certeza de que, se fosse alma, não apareceria mais. De facto a borboleta nunca mais apareceu depois; mas a alma fez-se ouvir à viúva — era a do marido — dizendo-lhe que não podia entrar no Céu, por não ter dado nunca, depois das comidas, “graças a Deus”, e que só lá entraria, se um dos filhos que deixou, as desse, sem ser industriado para isso. À ceia, a viúva perguntou aos filhos seguidamente se tinham comido bem; eles respondiam que sim e mais nada; mas chegando ao último, que era o mais novo, respondeu que sim, graças a Deus”, e a alma salvou-se.

Source
SARMENTO, Francisco Martins Antígua, Tradições e Contos Populares , Sociedade Martins Sarmento, 1998 , p.159
Place of collection
GUIMARÃES, BRAGA
Informant
Margarida (F),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography