APL 705 Outra lenda de marim

Doutros tempos, doutras eras
Em que Allah andou p’lo mundo,
Os dias das primaveras
Inda aqui brilham bem fundo...

Também os poentes de ouro,
Dormindo o primeiro sono,
Lembram restos de um tesouro
Nas nossas tardes de outono...

Desses tempos... diz a voz
Da lenda que nos persegue,
Que libertar-se de nós
A tragédia não consegue...
 
Porque Allah de longe vira
Que Zaidha amara primeiro
Um cristão que lhe sorrira
De entre as margens de um ribeiro...
 
E ali mesmo os encantou
Por todo o dia do dia,
De modo que ela ficou
Não moira, mas algarvia...

E a ele... para bem longe
O levou, para penar,
Co’um burel triste de monge,
P’ra viver sem mais parar...

Mas quando, nesses caminhos,
A Marim voltasse a vir
À procura dos carinhos
Daquele meigo sorrir

Que Allah fizera morrer,
Sem mais dó nem mais calor,
Deveria acontecer
Nova tragédia de amor...
 
Os tempos então correram...
E, no tempo assim perdido,
Quantos pares já morreram,
Por cada encontro ocorrido’
 
Pois agora, uma vez mais,
Zaidha, em Marim, abraçou
Um corpo de olhos fatais
Que morreu, quando a matou...

Source
LOPES, Morais Algarve: as Moiras Encantadas , Edição do Autor, 1995 , p.44-46
Place of collection
OLHÃO, FARO
Narrative
When
20 Century, 80s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography