APL 79 A moira que desencantou

Aqui, o nosso Baião foi em outros tempos uma moirama. Quando nós, os cristãos para cá viemos, pusemos os moiros fora, mas, nem todas as moiras os acompanharam algumas por aqui ficaram encantadas, quer dizer, escondidas, e são da cinta para cima mulheres e da cinta para baixo serpentes. Ficaram muitas no Penedo do Coto, lá em cima, em Tuaras, outras por aí, nem se sabe por onde.
 Há mais de vinte anos, num campo chamado da Eira, no lugar de Terno (Santa Leocádia), abriu-se um alago, que levou por essas leiras abaixo, até ao rio, terra que dava mais de dez alqueires de pão. Uma cerdeira coberta de flores, que estava no campo, foi de pé para outro campo e ali ficou até que o vento a deitou ao chão.
 Apareceram no fundo do barranco umas pedras redondas, assim a modo de umas mós de moinho, mas mais pequenas, e umas púcaras de barro. Juntou-se muita gente e disseram logo ali os entendidos (um deles era o Francisco Vendeiro, Deus lhe perdoe) que aquilo foi moira que ali estava encantada e desencantou.
 Soube-se depois que foi pelo rio abaixo a pentear-se. Muitos a viram… Se alguém conseguisse dar-lhe um beijo quebrava de vez o encanto e ficava mulher perfeita, mas ninguém se afoitou à corrente do Douro e ela aí foi, pobrezinha, sabe-se lá para que tristes paragens!

Source
PINTO, Maria Luisa Carneiro Por Terras de Baião , sem editora, 1949 , p.173-174
Place of collection
BAIÃO, PORTO
Narrative
When
20 Century, 40s
Belief
Some Belief
Classifications

Bibliography