APL 2378 [A Bruxa e o Menino Morto]

A minha avó tinha cinco filhas, todas as cinco eram perfeitas, mas havia uma bonita, linda, que era a minha mãe. Entretanto uma vizinha, com o ciúme da minha avó ter umas filhas perfeitas, em que a mais bonita era a Maria, e tentou fazer mal a essa Maria, como não conseguiu agarrou na mais pequenita que era a Matilde. Entretanto a menina começou a ficar doente, dormia no quarto com a minha mãe, a minha mãe sentia correntes, era mais forte do que ela, até que aconselharam a minha avó a ir a uma aldeia de Beja, que é a Cabeça Gorda, para ir benzer a menina porque não era coisa de médicos. A minha avó tentou ir ao médico mas a menina não avançava mais, entretanto a minha avó alugou uma charrete com o meu avô que Deus tem, meteram a menina na charrete e foram ter com aquela senhora a Cabeça Gorda.
Entretanto passaram uma velhota a beira da estrada, mandou parar a jarrete e disse, “a menina vai doentinha” agarrou umas flores e entregou a minha “filha” que deus tem.
Entretanto a minha avó bate a porta da senhora entrou, lá aquela senhora das benzeduras, e mandou sentar a minha avó e disse, “a menina está mal e quem fez mal a menina é uma vizinha da sua casa, que tem muitos ciúmes com as suas filhas, mas não é esta que ela quer matar, é uma outra sua filha bem linda, tem o cabelo preto, tem uns lindos olhos, é morena, eu tou a vê-la, eu tou a vê-la, mas ela não vai, ela não vai, ela é forte, ela aguenta-se. Mas esta filha é que vai morrer.”
Benzeu a menina, tratou da menina, quando a menina estava na charrete com o meu avô que deus tem, ela chamou a minha avó só, e disse, “que a menina precisava de […] muito mal que ela lhe fez, muito mal, e ela vai morrer, vai ficar sem esta filha.”
E ela veio chorosa, acreditava, não acreditava, ficou naquela. Entretanto a menina morre, mas a velhota que tratou da menina disse-lhe, “a primeira pessoa que chegar a sua casa para lhe dar os pêsames, foi esta mulher que deu cabo da sua menina.”
Pronto, a minha avó chegou disse as filhas, tatata...entretanto a menina morre, a menina morre, quem é que havia de bater logo ao vestigo da porta, esta dita senhora, a minha mãe era das filhas mais velhas, assim com o feitio que a minha filha tem, e disse, menina morre, foi um grande desgosto, eu tenho uma prima que hoje é Matilde por esta minha tia, eu tenho uma prima que me visita e é Matilde por esta minha tia.
Entretanto a minha mãe toda, com uma grande dor da irmã, uma grande dor desta minha tia Matilde, abriu as janelas, com a dor forte e disse-lhe, “que Deus há de permitir que tu hás de ficar sem as tuas éguas e hás de perder o teu marido, hás de sentir a dor mas a minha dor mais forte é a minha que perdi a minha querida irmã.”
E foi assim, ao fim de dias morreu-lhe os cavalos e morreu o marido desta fulana.
Contado por a minha família, que ainda hoje tenho vivas pessoas da minha família, que todos sabem.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2008
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Collector
Ricardo Rodrigues (M)
Informant
Felismina (F), Olhão (OLHÃO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography