APL 991 A namorada que era bruxa

Numa pequena aldeia, um rapaz namorava para uma rapariga e todos os seus amigos lhe diziam que ela era bruxa. Ele não acreditava mas, de tanto ouvir as pessoas falar, um dia de noite decidiu ir espiá-la. Não tendo outro sítio para o fazer, foi para cima do telhado da casa onde ela vivia com a mãe.
 Quando chegou lá, viu a mãe e a namorada sentadas à lareira a fazer papas para o jantar. Foi então que ouviu a rapariga perguntar à mãe:
 – Mãe, vamos buscar a criança antes ou depois de comer as papas?
 A mãe respondeu:
 – Vamos antes, enquanto as papas ficam ao lume. Quando chegarmos com a criança, comemos as papas e no fim chupamos-lhe o sangue.
 O namorado, que observou tudo, ficou espantado, porque nunca tinha desconfiado do que se passava naquela casa. Ficou ainda mais espantado ao observar mãe e filha a pegar num frasco e untar-se com unguento, que as fez invisíveis para passar sem abrir a porta.
 Enquanto as mulheres foram roubar a criança, o rapaz desceu do telhado à cozinha e foi buscar o líquido com que elas se tinham untado e deitou-o no caldeirão das papas.
 Quando as duas chegaram com a criança, pousaram-na e sentaram-se à mesa a comer as papas. Mas de repente as duas caíram para o lado mortas porque o unguento com que elas se untavam para ficarem invisíveis quando ingerido era veneno.
 O namorado pegou na criança e entregou-a às autoridades, contando-lhes o que se tinha passado.

Source
AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.B3
Year
2002
Place of collection
Joane, VILA NOVA DE FAMALICÃO, BRAGA
Collector
Paula Cristina Santos Braga (F)
Informant
José Capela Braga (M), 78 y.o., Joane (VILA NOVA DE FAMALICÃO),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography