APL 623 Lenda da Torre-Alta

Na freguesia de Areias, há uma aldeia chamada Torre. O nome veio de um pequeno castelo, que existia outrora sobre um outeiro, e cuja pedra foi empregada na construção de uma ponte.
 As mouras saíam as portas para ir ao rio Ave lavar cordões e meadas de ouro ao mesmo tempo que cantavam.
 Uma mina punha em comunicação o castelo e o rio. Havia uma grade na entrada, e lá dentro grandes jardins, donde vinham os cavalos beber ao rio. Quem se atrevesse a entrar na mina, avistava ao longe uma claridade, não podendo voltar para trás.
 Um homem que andava a nadar cometeu a imprudência de se meter na mina, e lá esteve um dia inteiro.
 Na mina entrou um dia o tio-avô de outro informador, e veio de lá gelado pelo frio e pelo medo, porque a ventania era medonha.
 Uma moira muito linda aparecia fiando sobre um penedo e cantava que era uma maravilha! Todos tinham medo.
 Uma ocasião, um rapaz cantou ao desafio com a moira, a qual lhe disse ficar desencantada se ele fosse amoroso: ela havia de transformar-se numa serpente, subir por ele acima, dar-lhe um beijo na cara e abraçá-lo.
 À hora marcada, apareceu a serpente com rugidos medonhos, e o rapaz deixou-se abraçar e beijar. A serpente ficou logo numa mulher; esta mandou-o buscar ferramenta, e ele foi. Voltando, começou a cavar, e, levantando uma pedra, viu no chão muitas meadas de ouro e peças de diferentes qualidades, estando a guardar a toca dois leões, cada um com sua espada.
 O rapaz e a moira ficaram muito ricos e arreceberam-se.

Source
LIMA, Augusto César Pires de Estudos Etnográficos, Filológicos e Históricos Porto, Junta da Província do Douro Litoral, 1948 , p.33-35
Place of collection
Areias, SANTO TIRSO, PORTO
Narrative
When
20 Century, 40s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography