APL 1930 [1º de Novembro]

Há longos anos atrás, aliás, ainda hoje se põe a mesa no dia 1 de Novembro, no Dia de Todos os Santos, no dia dos finados. E conta-se que a uma certa família, que ano após ano ficaram sem um membro da família.
 Acho que todos os anos os mortos diziam e dizem, que fazem uma procissão à volta da igreja no dia 1. Os mortos, as pessoas que morrem na aldeia e lá são enterradas, que fazem uma procissão em toda a volta da aldeia.
 Então, houve um dia uma família que desafiara Jesus e os mortos que tinha visto, acho que ele via os mortos que iam aparecer, principalmente os da família; e disse:
 - O que é que vocês vêm aqui fazer todos os anos? Ainda por cima vocês vêm aqui comer às nossas casas. O que é que vocês têm que vir aqui comer? E têm que vir aqui fazer?
 (Porque lá também a mesa é posta com sumos e carnes e frutos do dia anterior para o dia 1.)
 E depois houve uma pessoa daquelas que lhe apareceu e que realmente ia começar na procissão que lhe disse:
- Olha, tu está calado porque de hoje a um ano já cá andas também connosco.
No ano seguinte, os sinos começaram, toca sino para baixo, sino para cima.
- Quem morreu? Quem morreu?
 Tinha sido do tal fulano que tinha falado com o morto, e que lhe disseram que no ano seguinte que já lá andava.
 Pronto, no ano seguinte, ele voltou a aparecer a um outro membro da família. A pessoa ia a entrar para a igreja e começou a ver a procissão à volta da igreja e pergunta?
- Mas! O que é que tu andas a fazer? Já morreste e tornaste aqui a vir?
E ele diz:
- Está calada que para o ano tu também cá andas.
Pronto, bem dito, bem feito.
 No ano seguinte, os sinos voltaram a tocar a finados e ele morreu. E assim sucessivamente. E a lenda conta, que morreram 3 pessoas da mesma família. Todas as pessoas a que o espírito aparecia e que questionavam esses espíritos, a pessoa dizia sempre o mesmo:
- Para o ano já cá andas.
 E acaba assim a história. Foram-se embora as pessoas todas da família na procissão.

Source
AZEVEDO, Ana A Literatura Oral na Comunidade Emigrante Portuguesa em Montreal Faro, Universidade do Algarve, 2002 , p.# 136
Year
2001
Place of collection
São Jorge Da Beira, COVILHÃ, CASTELO BRANCO
Informant
Adelaide Ramos Vilela (F), 47 y.o., born at São Jorge Da Beira (COVILHÃ),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography