APL 969 Correr o fado


Em tempos antigos, um rapaz que trabalhava como criado para um lavrador chegava a certa hora do dia e ficava muito cansado e triste. Foi então que o patrão reparou que o rapaz não andava bem e perguntou-lhe o que se passava.
O rapaz não queria falar, mas como estava desesperado e confiava no patrão, contou-lhe que nas noites de lua cheia se transformava em lobisomem e que também corria o fado. Isto porque nesse tempo ouvia-se falar que, se o sétimo filho não se chamasse Adão ou Eva, conforme fosse rapaz ou rapariga, mais tarde iria correr o fado e transformava-se em lobisomem. Como os pais do rapaz assim não o fizeram, o triste fado aconteceu-lhe.
O lavrador, com pena do rapaz, prometeu ajudá-lo. Perguntou-lhe por onde passava quando corria o fado. O rapaz disse-lhe que tinha de passar sete montes, sete pontes e sete fontes.
O lavrador, numa noite de lua cheia, esperou na sétima fonte com uma foice bem afiada e ficou à espera do rapaz.
Quando o avistou transformado em lobisomem, deu-lhe um golpe com a foice e o lobisomem sangrou transformando-se no pobre rapaz.
O lavrador reparou que ao rapaz lhe faltava um dos dedos. Era a marca da foice.
Foi desta maneira que o rapaz deixou de correr o fado e de se transformar em lobisomem.

Source
AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.CF1
Year
2000
Place of collection
Eiriz, PAÇOS DE FERREIRA, PORTO
Collector
Anabela Carneiro Alves Correia (F)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography