APL 2968 [O Burro e o Cachecol]

Um homem de Constância ia trabalhar para o outro lado do rio e costumava passar na ponte do comboio. Como a volta que tinha que fazer era grande, o homem levantava-se sempre muito cedo e, ainda noite escura, fazia todo o caminho, pois nesse tempo havia o hábito de pegar ao trabalho ao nascer do sol.
Certo dia, o homem chegou a um local e encontrou um burro a pastar. Ficou admirado: — Um burro ali a pastar àquela hora!? Mas lá continuou o seu caminho. A tarde, quando regressou a casa não viu sinal de burro algum.
No outro dia, à mesma hora, o homem chega ao mesmo local e lá estava de novo o burro. E o homem:
— Outra vez o burro! Qualquer dia levo-te!
A história repetiu-se durante algum tempo, até que o homem se encheu de coragem, pegou no cachecol, aproximou-se do burro e prendeu-o a uma árvore.
— Ficas aí preso e logo vais comigo para casa!
E o homem lá foi para o seu trabalho. Ao fim da tarde, passou pelo local onde tinha deixado o burro preso, e nada. Não havia sinais de burro algum. O homem lá se conformou: — Perdi o burro e ainda me levou o cachecol!
No outro dia, o homem, mais uma vez, fez o caminho para o trabalho, mas desta vez uma enorme curiosidade o assaltava. Será que o burro lá estava novamente? Depressa chegou ao local e verificou, com uma certa desilusão, que desta vez não havia burro algum. Continuou o seu caminho e já quase dia, ao chegar ao trabalho, encontrou um homem desconhecido, e qual não foi o seu espanto: o homem tinha os dentes cheios de fios do cachecol com que na véspera prendera o burro.
Só então o homem se deu conta de que aquilo não era coisa boa.

Source
JANA, Isilda Histórias à Lareira Abrantes, Palha de Abrantes, 1997 , p.48-49
Year
1997
Place of collection
Constância, CONSTÂNCIA, SANTARÉM
Collector
Marisa Jesus (F)
Informant
Adelina da Conceição Moleiro (F), 62 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography