APL 1902 O Criado Lobisomem

Conta-se em algumas aldeias transmontanas que, certo dia, um homem recolheu em casa um criado para trabalhar na sua fazenda. Porém, passado algum tempo, o dono da casa começou a aperceber-se que, durante a noite, havia ruídos estranhos vindos do sítio onde o criado dormia.
 Uma noite, o homem resolveu tirar tudo a limpo e pôs-se a vigiar o criado, acabando por descobrir que era costume, à meia noite, ele sair de casa para ir correr fado.
 — Tenho um lobisomem em casa! — disse para consigo. — Está ele desgraçado e estou eu!
 No entanto, como se tinha já afeiçoado bastante ao criado, resolveu não lhe dizer nada. E nem quis pensar, sequer, em pô-lo fora de casa, pois, para isso, teria de dizer-lhe o motivo. Tratou foi de procurar uma forma de o ajudar.
 Assim, certa noite, uma noite gelada de Inverno, esperou que ele saísse de casa e foi no seu encalço até à encruzilhada onde ia espojar-se. Quando o criado se despiu, o patrão assenhorou-se da roupa sem que ele se apercebesse e foi queimá-la à beira do rio. Depois regressou a casa e trancou-lhe a porta.
 Ao levantar-se na manhã seguinte, o dono da casa abriu a porta e encontrou o criado morto na soleira. Estava nu e enregelado. Sem a roupa que o patrão queimara, o infeliz havia sucumbido ao frio da noite.

Source
PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisbon, Plátano Editora, 2001 , p.194
Year
1990
Place of collection
VINHAIS, BRAGANÇA
Informant
Guilhermino Bernardino Fernandes (M), 70 y.o., VINHAIS (BRAGANÇA),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography