APL 2379 [A Casa Assombrada]

Eu vivia numa casa em Marim que era dos Caducas que Deus tem, aquela casa não havia meio de ser alugada, porque toda a gente dizia que aquela casa, eu tinha ai os meus catorze anos, todo o mundo que ia viver para aquela casa saia assustada, toda a gente assustada, ninguém conseguia lá tar. Até que a minha mãe que tinha a mania que era muito forte, tatata, dizia que era ratazanas. Entretanto o meu pai, “Oh Maria, andamos sempre a mudar.”, eu corri as casas todas em Marim, morei em montes de casas em Marim, tanto que a minha filha quando vai passear comigo pergunta, “mãe foi nesta casa que moraste, mãe foi…”
Eu morei em todas, porque a minha mãe gostava de mudar de casas, até que foi pra aquela casa dos medos, “Ah, aquilo aparece lá alguns medos.” aparecia sim senhora.
Eu tava a mesa com o meu pai, o descansado do meu irmão e a minha mãe, e ouvimos um grande estalo na cara do meu pai, a luz apagou-se, a luz petróleo que naquele tempo era petróleo e a luz apagou-se. Diz o meu pai assim, “Oh atão tas a bater ao pai?”, “Oh pai eu não bati, o meu irmão não bateu eu também não bati, a minha mãe não bateu.”, “Ai Manel, parece que esta casa é o que dizem porque eu tou a sentir aqui coisas muito estranhas.”
Os velhotes que já tinham morrido a muitos anos, e tinham uns móveis, lá ao lado na outra casa, e a minha mãe sentia os móveis a bacutarem, e acordava supre saltada na cama, que eu dormia sempre com a minha mãe e o meu irmão com o meu pai.
“Oh Manel, anda cá aqui, tu não ouves?”, “Eu não oiço, mas eu não oiço nada.”, “Oh homem, o que é que eu tou a ver ali.” E a minha mãe via qualquer coisa na parede, mas nã sabia dizer o que era, mas via um vulto na parede.
Um belo dia de manhã, a minha mãe tava-me a preparar pra escola, e vê um homem sentado no gargalo do poço, “Ah! Cá está que dizem que vêm o homem no gargalo do poço.”
Era o dono da casa, eu olhei e realmente não se me afigurou o homem, mas a minha mãe viu que era o homem com o chapéu preto na cabeça, a minha mãe gritou, e aquela pessoa desapareceu imediatamente.
Bom, eram histórias que a minha mãe contava de noite naquela casa, que as coisas realmente, a minha mãe andava muito assustada. Era a fazer a comida sentia coisas ao lado dela, olhava pra parede via coisas, as luzes apagavam-se. “Ah Manel, temos mesmo que sair daqui.”
Até hoje, a casa nunca mais foi alugada, foi tudo abaixo, hoje o que é? O Aldeamento de Marim, nunca mais alugaram, foi tudo a baixo, desapareceu tudo.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2008
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Collector
Ricardo Rodrigues (M)
Informant
Felismina (F), Olhão (OLHÃO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography