APL 2188 A procissão das almas (b)

A senhora Ignacia Joaquina, uma boa mulher já falecida, que exercia o mister de parteira, e cujos braços honestos foram os primeiros que me ampararam quando eu vim ao mundo, tambem viu uma noite a triste procissão das almas. Naquela casa havia um costume, de estar sempre o postigo aberto emquanto a sua gente não entrava toda.
 Uma noite ouve ela, parece-me que era uma hora, um hu-ri muito grande.
 Vae a mulher, assoma-se ô postigo, vê ela vir uma procissão pela rua de S. Luis (a rua onde a Senhora Ignacia Joaquina morava). Ouve ela umas vozes muito tristes, muito tristes:
 — Anda para diante;
 — Como hei-de eu andar, se a minha mãe quando eu morri nunca me deu o apertilho com que eu amarrava o meu fatinho.
 A senhora Ignácia Joaquina jurou para nunca mais assomar-se assim àquelas horas da noite.

Source
DIAS, Conceição Tradições Populares do Baixo Alemtejo (RL XX) Lisbon, Livraria Clássica Editora, 1917 , p.133
Year
1916
Place of collection
Ourique, OURIQUE, BEJA
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography