APL 3724 A moura das Fragas do Rugido

Na aldeia de Assares, do concelho de Vila Flor, há umas fragas que são conhecidas pelas “Fragas do Rugido”, e dizem os mais antigos que há lá uma moura encantada na figura de uma grande cobra.
    Perto daquelas fragas havia antigamente uns tanques onde as mulheres iam lavar a roupa. Certo dia uma mulher da aldeia, quando estava a lavar, ouviu nas suas costas o ruído de uma grande cobra a rastejar, vinda das fragas. E tão aflita ficou que abandonou a roupa e fugiu para casa. À noite contou ao marido. Este, no entanto, não deu importância ao sucedido. E disse:
    — Só pode ser uma cobra como outra qualquer. Vai mas é lá buscar a roupa, que às tantas ainda ta roubam!
    No dia seguinte, a mulher voltou ao local para apanhar a roupa, e, quando estava a chegar lá, voltou a ouvir o mesmo ruído, logo cuidando que era a mesma cobra que ali estaria. Por isso, apenas pensou em pegar na roupa e ir-se embora. Qual não foi, porém, o seu espanto quando, ao pegar na roupa, encontrou dez reais numa beira dos tanques.
    Chegou a casa com eles e contou ao marido. E este o que pensou foi que só podia ser dinheiro que tinha ido na roupa de alguma mulher que lá fora lavar antes. Disse-lhe, por isso, para lá ir com o dinheiro no dia seguinte, pois alguém poderia andar à procura dele.
    A mulher voltou lá. E ao passar junto das fragas voltou a ouvir o mesmo ruído. A seguir olhou para o tanque e, na mesma pedra, lá estavam outros dez reais. Ficou toda contente e, ao pegar neles, aparece-lhe então uma grande cobra, que tinha cabelos negros e compridos, e que lhe disse:
    — Sou uma mulher como tu, e fui encantada ainda no berço. Se quiseres, podes desencantar-me. Só tens de vir todos os dias aqui, onde encontrarás sempre dez reais. E depois, haverá um dia, dia de S. João, em que me deixarás subir por ti acima até poder beijar-te. Ficarei então livre, e tu serás uma mulher rica. Mas não poderás nunca dizer a ninguém este segredo.
    A mulher foi para casa e disse ao marido que tinha devolvido o dinheiro à dona, nada contando sobre o encontro que teve. Nós dias seguintes passou a andar feliz, com boas roupas e muito luxo, e sempre a esconder ao marido a proveniência do dinheiro. A dada altura o marido começou a desconfiar da mulher, julgando que ela teria algum amante que lhe andava a dar aqueles luxos. E pediu-lhe explicações.
    Ela então não teve outro remédio se não confessar ao marido que andava a receber dinheiro por conta da ajuda que prometera dar à moura encantada. E no dia seguinte foram lá os dois, esperando encontrar os reais do costume. Só que desta vez já lá não havia dinheiro nenhum. E ouviram então uma voz chorosa de mulher, que soava entre as fragas, dizendo:
    — Ah, sua maldita, que me dobraste o encanto!
    E nunca mais apareceu. Nem ela nem os reais. A mulher deixou de ter direito a eles porque não cumpriu a sua parte no acordo, que era guardar segredo. Ficou, no entanto, mais descansada pois ganhou a confiança do marido.
    Depois foram gastando os reais que ainda tinham, e, acabados os reais, ficaram de novo pobres. E assim continuam.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.346-347
Year
2001
Place of collection
Assares, VILA FLOR, BRAGANÇA
Informant
Maria Luis Gonçalves (F), 89 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography