APL 2195 A cesta das maçarocas

Os mais antigos contavam também que os maruxinhos andavam muito na casa da Tia Ermelinda. Ela e o marido, um casal já de certa idade, viviam por isso muito aborrecidos.
Tinham sempre em casa umas sacas de trigo, mas os maruxinhos iam de noite e espalhavam-no pelo chão fora. E no tempo das castanhas… eram as castanhas. Depois eram as nozes, os feijões, a cinza do borralho. Quando não, arrastavam os móveis e as louças, despejavam a água dos potes. Enfim, faziam trinta por uma linha; pelo menos, o casal assim o dizia, e o povo acreditava.
Até que um dia, cansados desta vida e destes aborrecimentos, resolveram mudar-se para a casa na irmã da Tia Ermelinda. Como não tinham filhos, só a ela podiam recorrer. Juntaram então as coisas que possuíam e, com elas às costas, muito derreadinhos, lá foram os dois de partida.
Quando nisto, já a meio do caminho, ouvem uma voz, que seguia atrás deles, a cantar:

— Todos nos vamos de casa mudada,
e eu cá vou também com a maçarocada!

Era um maruxinho que carregava a cesta das maçarocas da Tia Ermelinda. Ela pensava que levava tudo, mas havia-se esquecido das maçarocas.

Source
PARAFITA, Alexandre O Tesouro dos Maruxinhos: Mitos e Lendas para os Mais Novos Lisbon, Oficina do Livro, 2008 , p.14
Year
2005
Place of collection
CHAVES, VILA REAL
Informant
Ana da Assunção (F),
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography