APL 2194 Os maruxinhos e a linhaça

Segundo a lenda, os maruxinhos viviam também nas ruínas da Fortaleza de São Sebastião, situada próximo da aldeia da Castanheira, no concelho de Chaves. Ninguém lhes punha a vista cima, mas sentir… o povo sentia-os.
Conta-se que, durante a noite, saíam dos subterrâneos da fortaleza e iam incomodar os habitantes da aldeia. Entravam nos currais, abriam os sacos de cereal e davam-no a comer, em enormes quantidades, aos cavalos, que, por isso, estavam sempre muito gordos e fartos. Depois montavam-nos e andavam a noite inteira a correr as sete freguesias à volta. Iam dois e três maruxinhos em cada cavalo.
Os donos dos animais, ao amanhecer, iam encontrá-los quase sempre suados, cansados e gordos. E interrogavam-se:
- Que é que se passa aqui? Que demónio nos vem, durante a noite, buscar os cavalos ao curral?
Até que um dos lavradores da aldeia, intrigado com aquele mistério, mas também já farto achar sempre os cavalos cansados e de não lhe renderem nada no trabalho ao longo do dia, resolveu montar aos intrusos uma armadilha infalível, Pelo menos, assim julgava ele.
Que é que fez então? Certa noite, foi a um saco e espalhou um alqueire de linhaça — que é a semente do linho — pelo chão do curral fora. Como a linhaça é muito fininha, achava ele que, se alguém passasse por cima, havia de deixar lá as pegadas.
- Amanhã saberei que raio de demónio me anda aqui a incomodar! – dizia ele.
E querem então saber o que aconteceu? Ao outro dia o lavrador ao entrar no curral, encontrou o chão completa limpo. Nem um grãozinho por mais minúsculo que fosse, estava lá perdido. A linhaça havia sido toda apanhada para dentro do saco.

Source
PARAFITA, Alexandre O Tesouro dos Maruxinhos: Mitos e Lendas para os Mais Novos Lisbon, Oficina do Livro, 2008 , p.12-13
Year
2005
Place of collection
CHAVES, VILA REAL
Informant
Maria Alice da Silva (F), 67 y.o.,
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography