APL 2914 [Os borborinhos]

São os borborinhos. São pessoas que morrem e Nosso Senhor não quis as suas almas no céu. Então vêm para a terra atormentar as pessoas.
Aos sete anos eu vi uma mulher levantada por um borborinho e deitou-a a um poço seco. Levantou-a bem alto, tinha a saia toda cheia de vento e não magoou a mulher. Levantou-a a 20 metros ou mais, numa altura que eu sei cá.
Dizíamos : “Alma perdida, afasta-te”, ou cruzávamos os dedos e dizíamos:

«Cruz de Cristo venha aqui
e essa alma que se afaste.»

E o borborinho foge logo, ele não pode ver a cruz. Eles não podem ouvir falar em Deus, é uma alma perdida. É o demónio que as manda. E fazem um funil tão grande, tão grande. Uma vez arrancou um palheiro com palha e tudo.
As pessoas não podem dizer que está ali uma alma perdida senão o vento piora e o borborinho é mais mau. Havia pessoas que respondiam mal e aí é que havia urros; eles diziam:
- «Vai para o mar largo a medir areia com alqueires sem fundo» - E o borborinho, ao ouvir isso, soltava-se contra as pessoas.
As almas batem às portas do céu e S. João não as deixa entrar; vão à porta do inferno e o diabo não as lá quer. Então vêm para o mundo para atentar as almas boas e levá-las com eles.

Source
SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira s/l, Band, 2000 , p.35
Year
1994
Place of collection
Ferro, COVILHÃ, CASTELO BRANCO
Collector
Margarida Maria Jacob (F)
Informant
Maria José Santos (F), 71 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography